Eduardo dos Santos “não tem sucessor à altura”

O Presidente de Angola não tem sucessores à altura, está há demasiado tempo no poder e a eleição para a Presidência devia ser feita por voto secreto e universal, defende o investigador luso-angolano Eugénio Costa Almeida.

Em declarações a propósito dos 35 anos de José Eduardo dos Santos à frente da Presidência da República de Angola, o investigador do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, do ISCTE, considera que “alguns dirão que o segredo da longa permanência é o enorme carisma e competência de Eduardo dos Santos, enquanto outros dirão que ele é Presidente porque o seu partido não encontra ninguém com qualificações para o cargo”.

Para Eugénio Costa Almeida, a verdade está algures no meio: “Há uma competência inegável e um carisma indiscutível, mas acima de tudo há uma dificuldade clara no seu partido [o MPLA] em descobrir alguém que possa se não fazer melhor, pelo menos ombrear com as suas naturais qualificações”.

O investigador explicou que a visão de Angola por parte da comunidade internacional divide-se entre o Ocidente, que elenca sempre a corrupção e a grande separação entre a elite e o resto da população, e a opinião pública africana, que olha para Eduardo dos Santos com respeito e esperança.

“Há uma tendência para exagerar as relações conforme os interesses subjacentes; é manifesto que há, e seria absurdo e utópico negá-lo, corrupção em Angola, só que o Ocidente tem uma imagem da corrupção que é um pouco hipócrita, e por vezes o combate justo à corrupção torna as coisas demasiado extrapoladas”, afirmou.

Por outro lado, continua, “em África, Angola é vista como uma potência e Eduardo dos Santos é o representante máximo dessa potência, é olhado como o tal obreiro da paz que poderá resolver problemas endémicos em África como a corrupção, as crises políticas e militares, mas talvez o mais justo seja perceber que há exagero nas duas partes: há corrupção e isso é indesmentível, há 1% de uma elite demasiado rica que domina o país, e os outros 99% da sociedade angolana que, se não é muito pobre, é bastante pobre, não vê os frutos devidos dos fundos gerados pelo petróleo e pelos diamantes”.

Para Eugénio Costa Almeida, Eduardo dos Santos é Presidente “há demasiado tempo”, e o próprio sistema que prevê que o líder do partido mais votado ocupe a Presidência devia ser alterado, para permitir “uma eleição directamente pela população de pessoas que não estivessem ligadas directamente a partidos políticos”.

O problema, resume o investigador, é que o líder de Angola há 35 anos até pode chegar aos 42 anos de mandato mas, “por vontade dele, já nem tinha ido a este mandato, só que parece que o partido não tem ou não encontra ninguém com qualificações técnicas e políticas para o substituir, e por isso vai impondo Eduardo dos Santos e ele vai aceitando”.

Daí a importância, conclui, de eleições livres e directas: “Não há ninguém com carisma que se afirme dentro do partido, daí que se a eleição fosse directa e universal e não estivesse dependente do partido, talvez houvesse outras personalidades”.

 

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